À primeira vista, Chris Cohen autosimboliza-se como música de coffee table, fica bem, é sofisticada e orientada, sentenciada a ficar como decoração e pouco mais. Ou ouve-se bem numa piscina, com ou sem cocktail. Isso é à primeira vista, fruto de uma mistura singela de quando a pop brasileira descobriu o jazz, com o tempo em que os Belle & Sebastian brincavam à chanson française enquanto uniformizavam experiências universitárias e os primeiros registos de Mayer Hawthorne. Há alguma crueldade em pensar na música de Chris Cohen como paisagem, mas isso só é cruel se o limite for esse. Não há necessidade dessa privação.
No passado fez parte dos Deerhoof – no período mais criativo da banda -, tocou com Ariel Pink e Weyes Blood e teve a sua própria banda, os The Curtains, no início do século. A solo tem lançado espaçadamente ao longo da última década e meia, “Paint a Room”, o mais recente registo, é o primeiro álbum em nome próprio em cinco anos, e tem por lá Jeff Parker a adornar as ideias que foram expostas no primeiro parágrafo. Cohen é então vítima por conta própria, acusado de fazer música doce, contemplativa e melodiosa.
É fácil apontar-lhe o dedo por fazer música que se ouve com facilidade. Soa bem, vive uma plenitude de descontração e sol, escondendo assim as verdadeiras epifanias que dá quando se presta atenção à escrita moderna de Cohen, que procura uma redenção nas pequenas grandes coisas enquanto dança pelas ansiedades modernas. A razão não é muito diferente de outros artesãos amargurados, a discrepância passa por aquilo a que escolheu soar. Mais doce, menos amargurado. Sem ser luz que dá escuridão, mas luz que se ilumina com a própria luz e com a bela característica de que não sabe envelhecer, que é como quem diz, é música intemporal, pela forma como mascara as mágoas e se veste em forma de planeta de algodão doce. Chris Cohen sabe viver as suas e as nossas dores, ouvi-lo é encontrar aquele bright side of life. Mesmo que às vezes seja mais discreto do que realmente é. AS