CONSUBSTANTIATION é um Drag show estranho. Deslocando-se de uma perspectiva de género e de identidade sexual binários, a performance desenvolve-se a partir da criação de um imaginário de “um espaço entre”, tanto sexual como de género, e da sua personificação: um corpo humano que se aproxima de um género-objecto.
Abraçando o ser-objecto como uma mandala para um género esbatido, uma figura entra num processo simultâneo e paradoxal de auto-objectificação e desaparecimento somático (cancelamento de sua subjectividade). Dinis Machado procura um imaginário de género paralelo, estrangeiro às estéticas sedimentadas de representação queer num imaginário pop mainstream. Um exercício de deslocamento onde: figurinos com glitter dão antes lugar a processos de hacking do corpo com objectos geométricos de materiais concretos; coreografias estilizadas dão lugar a territórios de movimento inomináveis; canções pop dão lugar a narrativas de identidade plurais e esbatidas cantadas como uma ópera dodecafónica, que produzem mais uma ficção incompleta do que uma legitimação narrativa do eu. Esta figura investe em condicionamentos e deformações do seu corpo sem nome, encontrando na materialidade, geometria e plasticidade um processo de questionar o corpo e a sua própria representação antropomórfica e, assim, reivindicar um corpo de uma materialidade queer: que se recusa a consubstanciar uma heterossexualidade linear, masculina e antropomórfica, e se recusa paradoxalmente também a abandoná-las.