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Música
Concertos

Mohammad Syfkhan ⟡ Ricardo Passos

qui29.05.2521:00
Galeria Zé dos Bois


Mohammad Syfkhan © Willie Stewart
Ricardo Passos

Mohammad Syfkhan

Nas últimas décadas, parte do trabalho em volta da música oriunda de outros cantos do mundo, quando esta saiu do engodo horrível que é o termo “músicas do mundo”, tem sido de descoberta de um passado riquíssimo, que fascina ora pela distância, ora pela forma como engloba certas ideias que julgávamos que conhecíamos numa roupagem completamente diferente. Isto sem descurar como o tradicional, a cultura ou os instrumentos de cada país/região entram na conversa. A ideia aqui é que muitas vezes o processo de fascínio passa pelo que já aconteceu e que agora está a ser lembrado, seja pela descoberta da música ou pela realização de que os músicos ainda estão vivos, ainda tocam, e há uma história qualquer fascinante – para nós, os ditos ocidentais – que nos ilumina. E se o passado não fosse a base, mas o presente? Eis a proposta de Mohammad Syfkhan e a sua bouzouki.
Nasceu na Síria, vive hoje na Irlanda. A história entre uma coisa e outra é fascinante, tristíssima e cada vez mais parte do dia-a-dia destas narrativas. Syfkhan estudou para ser especialista em enfermagem médico-cirúrgica, profissão que exerceu desde inícios dos anos 1980, a meias com uma carreira musical, na banda The Al-Rabie Ban, que tocava um pouco por toda a Síria, fosse em festivais, casamentos ou outro tipo de festividades. A guerra no seu país trouxe as piores notícias, um dos filhos foi brutalmente morto pela ISIS e, com medo que isso voltasse a acontecer tão perto do coração, saiu do seu país. Parte da família foi para a Alemanha, outra para a Irlanda. É lá que está desde 2016. É por estes dois países que tem tocado desde então, primeiro em festas privadas, e depois, à medida que o mito cresceu, começou a dar concertos, abrindo até para os Lankum na Cork Opera House em 2023. A audiência, a maioria não o conhecia, adorou.
Tem colaborado com artistas como Martin Hayes, Cormac Begley, Eimear Reidy, Cathal Roche e Vincent Woods e no ano passado editou o seu primeiro álbum, I Am Kurdish, com Reidhy e Roche a colaborarem consigo e darem mais recheio ao bouzouki e à sua voz. É aqui que se chega à ideia inicial, à do música do presente, Syfkhan não se limita a criar a partir da tradição, junta elementos dos Balcãs, do psicadelismo turco e daquela visionada música do deserto do norte de África. O resultado não tem ponta de nostalgia, ou o habitual selo de festividade – embora também exista – associado a este tipo de descobertas, que parte um bocado da nossa falsa inocência de primeiro mundo. Nada disso. A dinâmica de Mohammad Syfkhan salta esses preconceitos, é carregado de visão e de dor, arrasta uma melancolia que é expressa sem saber a história dele, ou sequer de onde vem. Funciona sem entendimento da linguagem, a comunicação é sonora e contagia. E, pelo meio, celebra-se a partida, a dor, a distância como males que se superam. Nem dá para imaginar como isto mexe ao vivo. AS

Ricardo Passos

Ricardo Passos é um músico multi-instrumentista, nascido no Porto, Portugal em 1977. Passou os últimos 20 anos a viajar pelo mundo, guiado pelo seu interesse em música e culturas de diferentes locais na Ásia, África, América e Europa.
Ricardo Passos começou por estudar guitarra clássica e piano no Conservatório do Porto, tap dance e jazz na Escola de Jazz do Porto.
A sua viagem inicia em Granada onde aprendeu a tocar guitarra flamenca. Atrás das raízes de África foi a Essaouira em Marrocos para aprender a tocar o guembri com Jamal Babamar. Seu interesse no derbake, no rik e no bendir conduziu-o ao Cairo no Egipto. Aí aprendeu com o mestre Hassan Youssef. Atraído pelos laços que unem o Oriente ao Ocidente voou até Istambul, ponte entre as duas culturas. Cem Yildiz ensinou-lhe música tradicional turca com o saz. Seguindo seu caminho, foi ao Irão para aprender a tocar tonbak e def.
Por fim chegou em Benares e aí conectou com a forma mais antiga da música clássica do norte da Índia: o canto dhrupad. Recebeu aulas do Dr. Rajesh Sendh. O Pandit SriKant Mishra foi seu mestre do tambor que acompanha este canto, o pakhawaj. Viajou até Bhopal para aprender com os mestres desta tradição, os Gundecha Brothers.
No Sul da Índia aprendeu o sistema rítmico indiano – solkattu – con V. Suresh e canto carnático com Anuradha Krishnamurthi. Aprendeu canto qawali com Ibrahim Khan em Ajmer e nagara com o mestre Nattu em Pushkar. Desenvolveu o canto difónico de forma autodidata.
Esteve em Pequim onde aprendeu a tocar o guzheng (harpa chinesa) com a professora Wang Yao.
Em 2011 mudou-se para Belo Horizonte onde se graduou na Universidade do Estado de Minas Gerais, Licenciatura em Música com Habilitação em Educação Musical. Aprendeu latin drum, congas e bongós com o mestre cubano Santiago Rhéyter.
Entre outros instrumentos, é auto didacta em canto difónico, sheng, morchang, duduk, guitarra portuguesa e santoor persa.
Atuou em Portugal, Espanha, França, Marrocos, México, Turquia, Irão, China, Índia, Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Colômbia. A sua música, explora com profundidade a improvisação e espontaneidade, misturando elementos da cultura oriental como as ragas da Índia com a polifonia da cultura ocidental.
Actualmente está de volta á cidade que o viu nascer, onde prepara o lançamento e apresentação do seu primeiro disco de originais “Noite de Luz”, dedicado à harpa chinesa, o guzheng.

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