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Nite Jewel ⟡ Free Free Dom Dom

ter14.06.2222:00
Galeria Zé dos Bois


© Giulia Giu

Tem por hábito dizer-se que a adversidade é amiga da criatividade. Aplicar isso a Nite Jewel e ao último álbum, “No Sun” (2021), justifica-se e é em simultâneo redutor. Comece-se por esta última parte, desde que surgiu em finais da primeira década deste século, Ramona Gonzalez mostrou que assumir riscos faz parte da criação. Embalada pela onda de revivalismo Twin Peakiano synth que existia há década e meia, “What Did He Say” (Italians Do It Better) e “Good Evening” (Gloriette) foram editados em 2008 e lançavam as bases para a forma meticulosa com que Ramona encaixava a sua voz em ambientes sintéticos, criando canções que apesar de terem berço num surto de nostalgia, não reclamavam esse diretório ao ouvinte. Essa aversão à cópia – dizendo de outra forma – planearam uma carreira cheia de riscos e de movimentos inesperados, como colaborações com Omar-S, Dâm-Funk ou Julia Holter. Esta última vem muito à memória em “No Sun”, não por influência directa mas pelas suas influências.

Nite Jewel exerce neste último registo um singular exercício evolutivo na sua carreira. Afetada pela vida pessoal – o fim de um casamento de doze anos – e inspirada por um doutoramento em Musicologia na UCLA – que começou em 2018 -, agarrou num sequenciador Moog e num teclado para criar oito canções sobre perda, desencontro e desespero. Despiu as suas canções, reduziu-as ao essencial e criou peças-performance que lembram o trabalho de Laurie Anderson ou de Ann Steel. Se no passado procurava a pop pelas vias da música de dança (electro/house/disco), actualmente ataca-a pela contemporânea e noções claras de jazz. Encontrou espaço para o som respirar, com um controlo exímio de tempos, pausas, silêncio. Uma Nite Jewel sem medo de nos levar ao íntimo. O seu e o nosso.

Pararam em Lisboa como acontece com muitos, curiosamente vindos de Berlim. Os Free Free Dom Dom são um duo francês (Laetitia e Philippe) que se conheceu em 2009 e que começou imediatamente a fazer música. Só em 2016, em Berlim, inspirados pelo modo de vida que levavam, perceberam até onde poderiam levar o projecto. Depois de vários singles, no ano passaram lançaram o EP “C’est Pas La Vie En Rose”, cinco canções refasteladas no input melancólico e criativo que uma pandemia e um estúdio caseiro (em Sintra, ainda por cima) podem promover. Pop confortável na junção de electrónica francesa, a calma de Nite Jewel e, curiosamente, a rebeldia de Nite Jewel. AS

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