Regresso sempre premente, e novamente pela ZDB, a Portugal do Australiano Will Guthrie com aquela que é provavelmente a sua criação mais ambiciosa. Presença recorrente por estes lados em diversos feitios – solo, duos com Koshiro Hino ou Ahmed Ag Kaedy -, Guthrie é hoje um dos nomes mais infatigáveis da bateria e da percussão, com trabalho franco em várias frentes que passam pela electro-acústica, improvisação livre, zonas limítrofes ao rock e as pontes entre tudo isso. Com um rol gigantesco de colaborações com nomes como Oren Ambarchi, David Maranha ou Mark Fell, para além dos nomes acima citados e muitos, muitos outros, Guthrie tem na versão ensemble do seu Nist Nah o catalisador para uma visão mui própria mas plenamente informada do gamelão Indonésio. Longe da secura académica ou da aculturação brute force, a música de Nist Nah recolhe não só inspiração nas várias formas de Gamelão, sejam elas milenares como a do ritual Jathilan ou a revisão contemporânea de Dewa Alit e o seu Gamelan Salukat, como de toda uma míriade de linguagens de várias latitudes: os trabalhos de percussão de Roscoe Mitchell, a improvisação colectiva de Henry Treadgill, os cruzamentos de Trevor Watts ou Mike Cooper e um longo fascínio e pesquisa em torno do timbre e da tonalidade da percussão de metal. Germinado em 2019 e desde então com formação mutável e em evolução contínua, o Ensemble Nist Nah tem contado nas suas fileiras com artistas com os mais diversos backgrounds como Sarah Hennies ou Jennifer Torrence, adaptando-se ao drive e interesse dos seus elementos num determinado espaço-tempo. Já com um hipnotizante álbum na Black Truffle – Elders – e uma colecção de gravações ao vivo de nome ‘Bits’N’Bobs’, o Ensemble Nist Nah entrou em 2024 na sua segunda fase, assentando a sua constituição em torno de jovens músicos de Nantes, cujo input tem tornado esta uma outra música, sempre viva.