Se a tutela da eletrónica tem sido graciosamente vitaminada por uma nova geração, estaremos então diante de um desses contribuidores. Prolífero e sem rede, Pavel Milyakov coloca as convenções em perspectiva, encontrando novas quadraturas em redor da música de dança e não só. Buttechno é o pseudónimo que celebra os ritmos ácidos, com uma já imperdível constelação de discos pela Incienso ou The Trilogy Tapes. A solo, o músico e produtor russo entrega-se a um espaço mental infinito; infusões ambientais, ecos do industrial ou alusões dub surgem como possibilidades definíveis a uma matéria em fluxo.
Por outro lado, a ousadia de Milyakov não só tem revelado caminho como aglutinar talentos. Com a vocalista Yana Pavlova desconstruiu o espetro rock em dois portentosos discos no ano de 2021. No mesmo ano juntou-se a Bendik Giske e já antes, chamara até si Alex Zhang Hungtai (Dirty Beaches). O mais recente álbum project mirrors, é uma exótica esfera de cristal. Fascina desde logo pelas pulsações melódicas que encontram a elevação, num raro estado entre o opiáceo e o frenético. Transporta-nos a montanhas e vales, cidades desertas ou memórias distantes de uma rave junto ao mar – esse teor cinematográfico está, aliás, bem presente; não como propósito, mas sim como efeito subadjacente. Afinal, Milyakov parece encontrar sempre uma saída criativa inesperada para os incríveis labirintos que nos convida a desfrutar.
Preparamo-nos assim para receber um dos magos da nossa atualidade, após passagens por festivais europeus de renome como o CTM ou Atonal ou em mecas como o Berghain e Trésor. Esperem o inesperado – só assim faz sentido. NA
