Habitando frequências musicais díspares, parece ser na ligação desses pontos que encontra o seu espaço pessoal. Entre um passado mais conectado com a cold wave minimalista e o presente situado na eletrónica hipnotizante, o futuro vai-se fazendo entre uma e outra esfera; processo nunca totalmente completo ou satisfeito – e por isso, continuamente cativante. Com laços muito próximos a toda a dinâmica dos belgas Soulwax, com quem editou e colaborou, estreou-se no catálogo da Ninja Tune com Working Class Woman. Por lá também deixou um punhado de bangers com Nina Kravitz, Daniel Avery ou Afrodeutsche por detrás das remisturas. E ainda houve oportunidade de uma nomeação a Grammy. Tudo créditos devidos a uma alma genuinamente inconformada que se move entre a sensualidade e a neurose, sem esquecer a condição de ser mulher nesta trama de mundo. Ainda que hedonista, Marie Davidson não deixa de auscultar a sua realidade e o seu tempo. Talvez mesmo até com mais sentido de urgência que aparenta.
Os próximos meses irão trazer um novo álbum, o primeiro desde 2020. Disco bravo na atitude e alinhado com a filosofia de liberdade que Davidson tão bem nos acostumou. Y.A.A.M (Your Asses Are Mine) é o tema de avanço que saltou cá para fora. Linha de baixo eletrizante, letra declamada com dedicação e uma canção que lentamente cresce entre arpejos e um espectro electro em chamas. Pouco mais de três minutos bastam para que Marie Davidson deixe clara a carta de intenções “But don’t be fool / I’m not that cool / I stick with the weirdos”. Numa altura em que irá percorrer um circuito de festivais e concertos próprios pela geografia europeia e norte-americana, regressa à ZDB como realeza que já demonstrou ser. Quem a viu sabe da energia contagiosa que implanta quer no palco, quer no dancefloor. E sejamos sinceros: não poderia ser de outra forma. NA