Ian Svenonius é dos poucos músicos americanos associado ao “universo do indie-rock” que assume a condição de teórico, agent-provocateur e artista multidisciplinar. Figura de proa na cena musical de Washington D.C., onde foi músico dos Nation of Ulysses, The Make-Up, Weird War, entre outros nomes, tem vindo desde 2006, a materializar algumas das suas ideias sobre o estado do rock n’ roll e da cultura americana. Para confirmar esta asserção basta ler livros como The Psychic Soviet ou Supernatural Strategies for Making a Rock ‘n’ Roll Group, onde teoriza e especula sobre o conceito de banda de rock ou articula relações entre as ideologias do século XX e a música popular.
Este percurso intelectual não apagou a continuação de uma prática musical. Há seis anos que Svenonius anda a construir uma discografia com “seus” Chain & The Gang e a colaborar com outros músicos. O que o traz à ZDB é, no entanto, algo distinto da produção intelectual e da produção musical. Ou melhor, situa-se, algures, no meio das duas áreas. Tem o título de ESCAPE-ISM e vem convocar memórias e sons da idade de ouro da Rádio AM nos EUA. Excertos de peças teatrais feitas para a rádio, gravações de programas noticiosos e actuações musicais, ruídos de estática, sons feitos pelo secreto sintonizar de estações radiofónicas.
Criado para acompanhar a digressão de lançamento de Supernatural Strategies for Making a Rock ’n’ Roll Group, acabou por se autonomizar como espectáculo musical. Mas seria redutor entendê-lo apenas dessa forma. É uma colagem que se desenvolve em tempo real, convidando o ouvinte a participar dela como espectador, ou não fossem os seus sons óbvios propulsores de imagens mentais e memórias. O título é pois adequado, mas a sua partição insinua uma aparente ironia. Talvez porque, arqueólogo da cultura de massas, Svenonius sabe descobrir nela aspectos redentores. Vira-a do avesso, revelando-a como instrumento crítico e libertador. Estejam prontos, nesta noite, para tal transfiguração. JM