A estreia de Marina Allen com “Candlepower” (2021) deu-se num momento pouco convidativo para músicos cuja elevação coexiste com um palco e uma audiência. Ouvimos a leveza da voz de Karen Carpenter com a aspiração de Karen Dalton, mesclada em instrumentais que tanto destacam pormenores de free jazz ou composições que exploram décadas de sol na música californiana. Cai-se na tentação de ouvir Marina Allen como uma Weyes Blood que não deu alguns passos e saltou logo para “Titanic Rising”. A comparação parece esticada, mas ao ouvir o último “Centrifics”, editado no verão passado, embalamos na mesma vontade de sonhar e contar histórias que se confrontam a si mesmas.
Allen também vem da Califórnia, Los Angeles, e tem vontade de banhar-se com experimentação, aceitar os desafios do desconhecido e das ideias que podem nascer por aceitar qualquer coisa que lhe pareça exequível. Daí “Centrifics” ter aquela qualidade de um álbum que não cansa, onde se ouve Allen a criar pontes entre diferentes sonoridades enquanto testa a voz em diferentes habitats. Talvez não seja surpresa para ela, nós, ouvintes, sentimos isso como um desafio que favorece a imaginação de pensar onde é que ela estará daqui a uns anos, se com dois álbuns já arrisca tanto e cria canções que respeitam o espaço, o silêncio, o tempo. E às tantas vale a pena questionar como é que um álbum tão delicado soa tão arriscado, arrojado na vontade de mostrar-se e mostrar uma cantora/compositora sem receio do lugar que a sua voz ocupa, pode ocupar, ocupará. Assim, tira todo o mistério, dá espaço ao real, ao contacto, ao tacto e a uma ausência palpável de medo. Ouvimo-la em cada canção como se tivesse a dar tudo. Uma e outra vez. AS