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Música
Concertos

Steve Gunn & John Truscinski Duo ⟡ Teresa Castro & Violeta Azevedo

ter18.09.1822:00
Galeria Zé dos Bois


Steve Gunn & John Truscinsky
Teresa Castro & Violeta Azevedo

Gunn Truscinski Duo

Dois músicos a carregar o peso beatífico de uma certa linhagem americana com pé assente na tradição e espírito livre para a levar por caminhos inauditos. Steve Gunn, guitarrista exemplar com uma relação já bem próxima com esta cidade – gravou aqui ‘Cantos de Lisboa’ com Mike Cooper – em ofício continuado por entre as suas canções hipnóticas de assento folk, membro da banda de Kurt Vile e passados embrenhados na exploração dos caminhos insondáveis nos GHQ ou Black Dirt Oak. John Truscinski enquanto baterista de uma vitalidade bem sóbria, numa fluidez que vai do acerto mimético do ritmo à indagação tímbrica, harmónica e textural desse mesmo instrumento. Duo com uma cumplicidade bem franca e cada vez mais simbiótica que recua ao início desta década e tem calcorreado por uma via bem sua com a vivência dos dias calmos. Fora de pressões externas e carreirismos parvos.

Chegado a ‘Bay Head’ após ‘Sand City’ (2010) e ‘Ocean Parkway’ (2012) e sempre na Three Lobed Recordings, o duo volta a trilhar por entre as paisagens norte-americanas – as estradas, desfiladeiros, memórias e lugarejos onde vivem o pó e a verdade – num compêndio instintivo de música de estrada bem enraizada no espírito e na vontade – country, rock, jazz da West Coast ou o ragga revisto à luz do American Primitivism. Nesse sentido, e como quem presta a devida reverência ao Jerry Garcia sem chegar à zombieficação Deadhead, há um lado de jam band a pairar sobre estas canções mas sem o ruminanço que essa ideia sugere. Antes uma contenção e aprumo nas ideias que se desenvolvem a partir de sugestões e gestos bem simples sem se espalhar no torpor solístico ad nauseam. Tanto contemplam o momento da melodia como se deixam levar pela imensidão dos grandes espaços, a acertar o passo numa descontracção precisa, onde a guitarra de Gunn tanto se atira para o olho do furação eléctrico com a verve de um Neil Young como se deixa encantar no dedilhado acústico narcótico que o Richard Thompson não criou, com réplica nos metais raspados e correnteza rítmica de Truscinski. E talvez seja a sugestão da gaivota mas ‘Seagull for Chuck Berry’ traz aquela lanzeira bluesy do ‘In the Skies’ do Peter Green. Da estrada a ver o céu. BS

Teresa Castro & Violeta Azevedo

Parte da família da Spring Toast e também das Savage Ohms, Teresa Castro e Violeta Azevedo surgem aqui em duo já com os seus caminhos a solo bem delineados no horizonte e uma rede de colaborações em comum bem fortificada. Para além do pulso rítmico hipnótico vincado na motorik que traz para o combo em transe das Savage Ohms, Teresa Castro enquanto Calcutá reescreve variações sempre rentáveis da ‘Into Dust’ dos Mazzy Star e devida sequência espectral da canção de Grouper ou Weyes Blood. Violeta Azevedo tem projectado sonhos para sintetizador e flauta que inevitavelmente sussurram pelo Jon Hassell mas surgem assombrados pela hauntologia – Ghost Box e Caretaker em partes iguais. Como que a fitar a neblina que se eleva dos pedais dos My Bloody Valentine com os olhos cerrados pelas transmissões mais cintilantes de Axolotl ou Burning Star Core. É bonito este encontro. BS

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