Autor de algumas das manobras mais oblíquas na música deste milénio, o norte-americano soma uma obra tão desafiante quanto magnética. Sob a aura de laboratório vivo que são os seus Dirty Projectors, penetrou nos confins da pop, folk ou aproximações RnB durante duas deliciosas décadas. Compôs canções de requinte e alucinação, do encanto barroco à liberdade do psicadelismo – e ousou inclusive aplicar uma roupagem irreconhecível aos clássicos dos Black Flag em Rise Above. Com uma abordagem composicional peculiar e arranjos vocais irreais, pouco tardou até às colaborações de ouro com Björk, David Byrne, Joanna Newsom ou Solange, apenas para citar alguns. O carácter transversal da sua arquitectura sonora ganhou não só latitude como também singrou Longstreth enquanto compositor de bandas sonoras, peças orquestrais e tantas outras formulações ad hoc. Não obstante, continua a ser um fascinante enigma.
Quando em 2008 se apresentaram, pela primeira vez na ZDB, longe estávamos de imaginar um futuro tão singular. O tempo fez naturalmente aqui a sua justiça, embora o próprio tenha logrado aprimorar visão e engenho em manter a chama não apenas viva, mas ardente. Agora, em pleno 2024, o seu fundador e diretor de cena David Longstreth regressa numa pouco habitual aparição a solo, acompanhado somente de guitarra e piano (e todas as vozes numa só). Haverá obviamente a revisitação de celebrados temas da banda, mas igualmente espaço para a partilha de material inédito com o público. Um regresso “a casa”, aqui pela mão da promotora e editora lisboeta, Canto. NA