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Linn da Quebrada ⟡ Conan Osiris ⟡ Mykki b2b Jagër

sex02.03.1822:00
Galeria Zé dos Bois


Linn da Quebrada
Conan Osiris

Linn da Quebrada

Se a música não servir para transgredir – ideias e margens, preconceitos e barreiras, géneros, regras e o que mais possa merecer o nosso desrespeito ou a nossa vontade de mudança – então é bem capaz de não merecer a atenção de quem procura na música a força transformativa que sempre mostrou ter nos momentos mais importantes (e a música serviu para fazer levitar o Pentágono nos anos 60, para incendiar ruas nos anos 70, para erguer toda uma nação das inner cities da América dos anos 80, para cuspir no tédio nos 90 e para confirmar que o futuro nos merece a todos já neste milénio).

É isso que faz Linn da Quebrada, “artista multimídia e bixa travesty”, como ela mesma se apresenta em bom brasileiro no seu sítio da internet. Ao Huffpost Brasil, a artista assumiu que usa a música como arma (como de resto todas as revoluções, com ou sem cravos…): “como arma voltada para mim mesma”, esclareceu ainda, explicando mais: “Olhando para os meus desejos, olhando para o meu desejo sempre voltado para um macho. Ao mostrar essas ideias para outras pessoas, percebo que muita gente se identificava”.

E isto porque a ditadura heteronormativa exige hoje esse combate, nem que seja pela força do que a própria Linn descreve como “afro-funk-vogue”, a fórmula que Madonna parece procurar em Lisboa e que já foi inventada, por necessidade, lá na quebrada, no morro, onde sobreviver é mais difícil e superar é a única solução. Depois de se estrear em 2016 com o tema “Mulher”, Linn conseguiu apoio colectivo para a gravação e edição de Pajubá, disco de estreia com produção de BadSista, que também a secunda ao vivo.

E o “show” (“to show” quer dizer mostrar, não é?…) de Linn exibe essa mulher que não se contenta com a norma, que quer transgredir porque isso significa sobreviver: “eu procuro um diálogo com o meio TLGB e um diálogo comigo”, confessa-nos ela. “Eu sempre vi no funk uma grande potência no que diz respeito a produção de desejo e sexualidade. Eu quero produzir esse desejo em corpos que de alguma maneira estão em um contexto parecido com o meu”. Tudo dito. Agora é suar esse desejo com funk de quebrada adornado com vogue de fantasia. RMA

Conan Osiris

A abrir a noite, uma estreia importante: Conan Osiris revelou-nos que adora bolos no final do ano que ainda está fresco na nossa memória e isso projecta-o como uma das grandes promessas da canção em português sem merdas ou festivais de 2018. Ao Rimas e Batidas afiançou que se matava se fosse obrigado a fazer coisas sem sal. Prefere assim oferecer-nos doce e picante, absurdo e poesia, ritmo e estilo, pinta e coragem, num álbum que já foi descrito como “o resultado de um improvável cruzamento entre Arca e os Santamaria a produzirem Balele, lendária voz dos Ciganos de Évora, ou Frei Hermano da Câmara, numa sessão abençoada com a presença espiritual de António Variações”.

Não há muitos artistas assim, capazes de transgredir e colar o que parece impossível colar, cruzando estilos como quem atravessa cordilheiras, sem passaporte e sem medo das fronteiras. Adoro Bolos saiu na AVNL e é não o último grande disco de 2017, mas o primeiro grande milagre de 2018. Isto não é tempo de continência, como dizem os cardeais, é mesmo tempo de mandar a autoridade e a norma às urtigas e render o corpo às evidências do groove afro-funk-pimba-vogue-cigano-fado-trágico-cómico-electrónico. E tal. RMA

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