Por que é que guardo tudo isto?
Por meio de ambientes virtuais, Saudades Street View constrói-se como uma anotação sobre memórias. Memórias passadas, memórias falhas, memórias que já deixaram os nossos cérebros e existem apenas preservadas nos nossos arquivos digitais. Exercitamos a permanência de vivências que existem em telas, códigos, artefactos imateriais e lugares virtuais das nossas infâncias. A partir disso, pensamos em como lembramos. Como nos apropriamos das nossas lembranças como protótipo, como prática, como ofício das nossas vidas.
Através dessa fantasmagoria que existe entre os nossos mapas mentais e os nossos HDs, experimentamos. Entre arquivar e fazer, assumimos a nossa linguagem nascida no digital, como expressão de algo que já foi ou que está quase a esvaziar-se, e convidamos à navegação nestes dois espaços virtuais distintos: Saudades Street View, de João Parente, e Fóssil (Cicatriz), de Henrique Fagundes. Ambos os espaços são reflexo de conversas sobre o passado, o futuro, o presente, o amargor e a saudade.
Da nostalgia em torno do não pertencimento enquanto imigrante, da nostalgia vivida em torno da crise climática e da busca de um refúgio e sobrevivência, só se existe quando se está em relação com algo. Que espírito nasce daí?