Na noite de Natal, o Rock n’Roll volta a descer à Terra para aquecer o coração aos solitários. Com as ruas vazias e os espíritos dominados por sentimentos confusos (alívio, paz, depressão, melancolia, tédio), não há nada como o estrépito do som da guitarra e a ameaça de uma voz tecida nas imagens da América profunda. Música fantasiosa para libertar da fantasia.
Após um ano sabático, o anfitrião volta a ser The Legendary Tigerman, num retorno às origens enquanto one-man band. É um caso raro, este. Um homem, com a sua música, sem alaridos, apenas com a convicção serena de que ela bastará para o sucesso do chamamento. Ora, no repertório do homem-tigre não faltam canções que têm, exactamente, a capacidade de congregar os outros à sua volta. E o mais importante, sobretudo nesta noite, não se impõem a quem as ouve. Deixam-se estar ou acomodam-se às emoções de quem chega. Não se pense que curam, que são uma espécie de lenitivos. The Legendary Tigerman não traz uma mensagem de harmonia ou de paz. Não faltará turbulência e agitação nesta noite.
O rock and roll foi feito para amar, sim, mas também para dançar. O que se pode fazer ao som de Bad Luck Rhythm N’Blues Machine senão dançar? Uma comunhão libertadora para os dias seguintes. Assim será este concerto onde todos serão meninos e rei magos. JM