mini-ciclo cinema no terraço
lingering nights
Em Toute une nuit (1982) de Chantal Akerman, há pares de pessoas que se encontram, fazem amor, separam-se, dançam, bebem, comem, falam ao telefone e dormem, durante uma noite quente de verão em Bruxelas.
Selecção musical por Cali
Tal como Toute une nuit de Akerman, a seleção musical que fiz, desafiada pela Laura Martins, agrupa-se em pares, não de estranhos, como no filme, mas de músicas (duas por artista). As escolhas foram intuitivas e tentei inserir um bocadinho do que gosto, desde música erudita – que é parte integral no meu percurso como violoncelista, tendo começado em 2001 – a música eletrónica, pop experimental, jazz fusion, entre outros géneros.
lingering nights não são noites de transição, antes noites de suspensão.
na primeira noite, a suspensão do inadiável, do inescapável, não tomar a responsabilidade, não seguir, não preparar, não reparar, não contextualizar, não estremecer, não envolver, não conectar, não agir, não saber, não olhar, não querer, não cuidar.
na segunda noite, respirar, encontrar, abrir espaço, abrir tempo, dar-se ao tempo, dar-se ao outro, esperar, escutar, permanecer, continuar, desejar, sentir, fazer, manter, espantar.
excerto de O encontro é uma ferida de João Fiadeiro e Fernanda Eugénio
O encontro é uma ferida. Uma ferida que, de uma maneira tão delicada quanto brutal, alarga o possível e o pensável, sinalizando outros mundos e outros modos para se viver juntos, ao mesmo tempo que subtrai passado e futuro com a sua emergência disruptiva. O encontro só é mesmo encontro quando a sua aparição acidental é percebida como oferta, aceite e retribuída.
Dessa implicação recíproca emerge um meio, um ambiente mínimo cuja duração se irá, aos poucos, desenhando, marcando e inscrevendo como paisagem comum. O encontro, então, só se efectua – só termina de emergir e começa a acontecer – se for reparado e consecutivamente contra-efectuado – isto é, assistido, manuseado, cuidado, (re)feito a cada vez in-terminável.
Muitos acidentes que se poderiam tornar encontro, não chegam a cumprir o seu potencial porque, quando despontam, são tão precipitadamente decifrados, anexados àquilo que já sabemos e às respostas que já temos, que a nossa existência segue sem abalo na sua cinética infinita: não os notamos como inquietação, como oportunidade para reformular perguntas, como ocasião para refundar modos de operar.